Litoral do Paraná amarga prejuízos em temporada com estradas interditadas e em obras

Litoral do Paraná amarga prejuízos em temporada com estradas interditadas e em obras

27 de março, 2023

Quem vive do turismo no Litoral do Paraná tem acumulado prejuízos. Depois de dois anos praticamente sem movimento devido à pandemia de Covid-19, a expectativa era de que esta temporada de 2023 fosse a redenção. Ou pelo menos o começo dela. Havia até o fato novo da revitalização da Orla de Matinhos, um motivo a mais além do controle da crise sanitária, para atrair turistas às praias paranaenses.

Mas as novidades na praia de Matinhos não foram suficientes para levar os veranistas esperados ao Litoral do estado. Enfrentar as rodovias como a BR-277 e a Estrada da Graciosa passou a ser desafiador. Além das longas e demoradas filas, o risco de acidentes começou a pesar, devido ao estado precário das estradas.

Hotéis, pousadas, bares, restaurantes e o comércio em geral foram duramente impactados pela falta de manutenção adequada nas estradas, que tem se acumulado desde novembro de 2021, quando o contrato de concessão das rodovias pertencentes ao antigo Anel de Integração foi encerrado.

Nos últimos cinco meses, a situação se agravou. Foram sucessivos desmoronamentos de terra na Estrada da Graciosa e na BR-277, onde também o asfalto rachou e afundou em mais de um ponto, mais de uma vez. As estradas tem sido interditadas total ou parcialmente, afugentando o turista do litoral do Paraná.

Na tarde da última quinta-feira (16), a equipe da Tribuna do Paraná rodou pelos locais críticos de obras na Serra da Graciosa, no km 12 e km 8. A estrada estava totalmente interditada para os serviços de contenção de barreiras e por causa da chuva – que caiu no dia anterior, quando foi registrado um acúmulo de 300 mm de chuva em cinco dias.

No local das obras, o volume de terra nos paredões da serra chegou a assustar por causa da quantidade. Vale ressaltar que, mesmo quando a estrada é liberada para o tráfego de veículos, o trânsito funciona o sistema de “pare-e-siga”. A viagem da capital à Morretes, no Litoral, costuma ser mais lenta do que o normal.

Cancelamentos de reservas aumentam crise

“Os cancelamentos só aumentam a crise que começou na pandemia e agravou com o trânsito impedido no final do ano passado e início deste ano”, observa Fábio Agayo, presidente da Federação Paranaense de Turismo (Feturismo).

“Este é um período que ainda mantém um clima típico de verão e sempre rende algum movimento nos caixas de bares, restaurantes, casas noturnas, lojas e hotéis, devido aos veranistas que aproveitam para vir antes da chegada dos meses de inverno”, diz Agayo.

Esse ano, no entanto, o mês de março está sendo muito fraco, segundo ele. Assim como deve ser fraco também em abril, para quando havia expectativa de bom movimento devido aos dois feriados (Páscoa e Tiradentes), além do último fim de semana do mês que emenda com o feriado do Dia do Trabalhador (1º de maio).

Walid Omairi é proprietário de hotel em Matinhos há 38 anos. Ele diz que o prejuízo á incalculável. “Em março sempre tínhamos movimento. Ainda mais nos fins de semana. Agora, as pessoas estão com medo descer ao litoral por causa das estradas”, observa.

O empresário conta que está fazendo demissões porque não tem perspectiva de que a situação melhore. Ele tinha cinco funcionários, dos quais três forem demitidos recentemente. “Os reparos não serão feitos logo e só estamos tendo prejuízo. Não só os hotéis, mas o comércio em geral”, lamenta. “E pior é que a sazonalidade do inverno nos preocupa ainda mais com esta situação da estrada”.

Para Omairi, embora a BR-277 seja uma rodovia federal, o governo do Paraná também tem responsabilidade sobre ela e sobre a situação na qual se encontra. “Foi negligência do governo estadual também, porque se sabia há muito tempo que o contrato de concessão ia se encerrar e o novo processo poderia ter sido agilizado”. O governo do Estado rebateu a crítica por meio de nota (leia a íntegra ao final da matéria).

Luciane Novisk vive e trabalha em Pontal do Paraná. Ela é cirurgiã dentista, mantém um consultório e também um café. “Estou tendo prejuízo dos dois lados. As pessoas que moram e trabalham na região vivem do turismo e de vendas direta. Não estão vindo mais em meu consultório porque perderam renda e não têm como bancar um tratamento odontológico. E no café, sempre muito frequentado por turistas, não há movimento”, afirma. “Está sendo a pior temporada para nós”, lamenta.

O presidente da Associação de Hotéis, Pousadas, Restaurantes, Bares, Casas Noturnas e Similares do Litoral Paranaense (Assindilitoral), Carlos Dalberto Freire, também diz que não há dúvida de que o prejuízo é um dos maiores da série histórica. “Na alta temporada até tivemos algum movimento, mas agora está parado”, avalia.

Freire conta que era muito comum, nessa de fim do verão e também mais para frente, fora da temporada, pessoas da terceira idade frequentarem a praia. “Muitas têm casas aqui, mas esse ano não estão vindo com receio de enfrentar as estradas. A BR-277 do jeito que está é um grande problema”, pontua.

Prefeitos do litoral do Paraná pedem solução definitiva

No último dia 13, os prefeitos dos sete municípios do litoral do Paraná, ondem vivem 300 mil pessoas, se reuniram para e buscar uma mobilização e cobrar soluções.

“A maioria das cidades aqui vive do turismo. Os donos de hotéis, pousadas e restaurantes estão reclamando porque estão sem movimento”, diz Marcelo Roque, presidente da Associação dos Municípios do Litoral (Amlipa) e prefeito de Paranaguá. Ele conta que Morretes, cidade histórica que historicamente recebia muitos turistas, especialmente nos fins de semana, está vazia. “Tem um restaurante lá que tem capacidade para 70 pessoas e não tem sido frequentado por mais de 10”, exemplificou.

Além do turismo, o que preocupa muito toda a região, segundo Roque, é a saúde pública. “Muitas pessoas que vivem em nossas cidades precisam fazer tratamento de saúde em Curitiba, como sessões de quimioterapia e radioterapia para tratar um câncer, que é imprescindível, e não estão conseguindo comparecer porque não têm como sair do litoral”, conta.

Outro grave problema é o impacto nos portos de Paranaguá e Antonina. “Essas cidades dependem dos portos, que estão tendo dificuldades para receber cargas devido à precariedade das estradas”,  diz o prefeito.

“Vamos perder arrecadação. O orçamento não será o mesmo e nós vamos ter que rever os investimentos previstos para as áreas de saúde e educação” prevê Roque. Segundo ele, no caso de Paranaguá, 70% da receita vem do porto.

Para o presidente da Amlipa, não adianta ter pontos esporádicos de reparos porque a todo momento tem problema. “É preciso resolver a situação de vez”, reivindica ele. A associação está tentando uma agenda em Brasília para a próxima semana com os ministros Renan Filho (dos Transportes) e Márcio França (dos Portos e Aeroportos). “Nós, prefeitos do litoral, queremos levar a eles informações sobre tudo o que está acontecendo aqui e pedir agilidade nas soluções”, informa Roque.

A preocupação maior dos prefeitos é que a nova concessão das rodovias do Paraná ainda vai demorar. Eles vão propor que, paralelamente ao processo da nova concessão, se abra uma concessão de emergência, com dispensa de licitação, até que o novo contrato, que terá vigência de longo prazo, seja assinado. “Somos favoráveis à concessão, com um preço de pedágio justo. E não queremos encontrar um culpado, queremos solução”, finaliza.

Governo do Paraná reforça que assumiu trabalho emergencial nas estradas

Em nota, o governo do Paraná rebateu a crítica vinda do litoral do Paraná referente à negligência relacionada às estradas. Confira a íntegra do posicionamento do Executivo estadual:

“O governo do Estado sempre defendeu que os contratos lesivos do Anel de Integração, envolvidos em escândalos, não fossem renovados. Desde o fim das concessões, Estado e União contrataram empresas para manutenção das rodovias – o Estado, nas PRs, e a União nas BRs. Os contratos da administração estadual somam R$ 93 milhões para os cinco lotes. Como havia limitação financeira por parte do governo federal, o Estado assumiu também o atendimento emergencial com guinchos nas rodovias estaduais e federais, mediante convênio. Uma renovação da concessão também dependeria de uma decisão da União, já que o Estado não pode legislar sobre a BR-277, uma rodovia federal, por exemplo. Naquele momento, em 2021, já havia um acordo com o governo federal sobre as novas concessões, que ainda tramitaria no Tribunal de Contas da União (TCU). O modelo acordado prevê mais de R$ 50 bilhões, um pacote robusto de obras e tarifas mais baixas em relação àquelas praticadas no antigo contrato, atendendo demandas da sociedade apresentadas em audiências públicas. O Governo do Paraná assumiu no ano passado uma obra emergencial na BR-277 para ajudar o governo federal em um momento de transição e solicitou na semana passada novos investimentos na rodovia e a manutenção do trecho com afundamento da pista. O Estado segue confiante que o novo modelo de concessão seja firmado em breve e que novos investimentos potencializem ainda mais a economia paranaense nos próximos anos”.

Fonte: Elvira Fantin - Gazeta do Povo com Alex Silveira - Tribuna do Paraná Foto: Átila Alberti/Tribuna do Paraná

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