Lauro Valdivia avalia o mercado de TRC
24 de setembro, 2018
Resultado da última pesquisa do DECOPE mostra que o Transporte Rodoviário de Carga (TRC) ainda não saiu da crise e a recuperação do valor do frete rodoviário de carga continua sendo o maior problema a ser enfrentado pelo setor. Nos últimos anos, através do CONET, noticiou-se a constatação de que as empresas que operam no setor trabalham com fretes abaixo dos custos apurados pela NTC, com margens insuficientes para bancar a complexidade das suas operações, os investimentos necessários e os riscos envolvidos de forma a garantir o seu futuro e as necessidades impostas pelo mercado, situação que pode comprometer, no curto e médio prazos, o atendimento das demandas da sociedade.
No primeiro semestre, observa-se que uma parte do mercado compreendeu as dificuldades pelas quais passa o setor, contudo, nota-se que ainda são poucas as transportadoras que conseguiram reajustar o frete, só 23,0%, e ainda assim, aquém do necessário. Prova disto é que o reajuste médio foi de 1,5%, valor insuficiente para cobrir a inflação no período que foi, segundo o INCT da NTC, de 2,5%, ou seja, ainda não se vislumbrou no setor a esperada recuperação do valor do frete, pois: os percentuais de repasse dos custos aos fretes, por pressões do mercado, foram em muitos casos inferiores aos valores solicitados; os custos das empresas continuam subindo (combustível, salários, pneus, veículos, etc), inclusive em função de perdas na produtividade, devido a fatores como restrições à circulação nos grandes centros, barreiras fiscais e a burocracia e ações nos terminais das empresas embarcadoras, dentre outros.
A consequência desta situação pode ser vista em alguns números da pesquisa realizada em julho que aponta uma defasagem média no frete de 17,22%, sendo de 9,61% nas operações com cargas fracionadas e de 19,33% nas com cargas lotações – estes percentuais são preocupantes, na medida que a comparação é feita com valores que não contemplam os impostos e a margem de lucro. Outro dado que chama a atenção é a falta do recebimento dos demais componentes tarifários: só 29,8% recebem frete-valor e 22,2% GRIS. E, ainda, se verifica que o mercado, em geral, não remunera adequadamente o transportador com relação a custos e serviços adicionais, não contemplados nas tarifas normais.
Enquadram-se nesta categoria: a cubagem da carga, o elevado nível de roubos em algumas regiões brasileiras (EMEX), serviços de paletização e guarda/permanência de mercadorias, uso de escoltas e planos de gerenciamento de risco customizados, uso de veículos dedicados, dentre outros. É importante observar que muitas vezes os custos com esses serviços são superiores ao próprio frete peso.
Outro ponto destacado na pesquisa e que contribui para a situação difícil por que passa o setor é o nível de atraso no recebimento do frete: 50,4% das empresas disseram que não estão recebendo o frete dentro do prazo estabelecido, comprometendo 13,5% do seu faturamento, o que aumenta o volume necessário e o custo com o capital de giro.
Como fruto desta situação tem-se 52,5% das empresas afirmando que o primeiro semestre do ano foi pior que o ano de 2017 e, 57,5% viram seu lucro diminuir em média 8,4%. A consequência disso tudo pode ser resumida no seguinte número: 41,1% afirmam não estarem conseguindo honrar o recolhimento dos impostos devidos.
Mas pelo menos os números mostram que a situação vem melhorando, mesmo estando muito longe da ideal. E, a expectativa em relação ao futuro também progrediu: os que achavam que o frete iria pior em janeiro de 2016 estava na casa dos 5,4% agora em julho de 2018 ele já alcança 36,6%, já os que achavam que ele iria piorar caiu de 54% para 28%.
A única conclusão que se chega é que enquanto as empresas do setor não aprenderem a cobrar de forma adequada pelo serviço que prestam, esta situação incômoda, que podemos considerar ser histórica, não deve melhorar.
Lauro Valdivia, Especialista em transportes; Engenheiro de Transportes, pós-graduado e Mestre em Administração de Empresas. Assessor técnico da Associação Nacional do Transporte de Cargas (NTC).