31 de julho, 2017
Frete mais caro em agosto e setembro
Alta demanda para escoar a safrona de milho e reajuste da alíquota sobre combustíveis vão encarecer, ainda mais, a retirada da produção do campo até armazéns e portos
O campo sofreu mais um duro golpe, reflexo de medidas tributárias do governo federal para aumentar a arrecadação e reduzir o rombo nas contas públicas. O reajuste das alíquotas do Programa de Integração Social (PIS) e a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) sobre a gasolina, o diesel e o etanol, anunciada no final de julho, pegou os produtores paranaenses em meio ao escoamento da safrona de milho. Ou seja, o transporte das 13,8 milhões de toneladas até os armazéns e/ou portos, mais outras tantas toneladas de grãos de inverno como trigo, cevada e aveia e parte da soja que ainda está estocada irá custar ainda mais caro.
“Esse aumento foi descabido e exagerado. Não houve uma análise mais aprofundada de como isso impacta negativamente no setor de transporte de carga, nem no setor produtivo que cria emprego e gera renda”, dispara Sérgio Malucelli, presidente da Federação das Empresas de Transporte de Cargas do Estado do Paraná (Fetranspar).
Mesmo antes do reajuste federal, o campo já enfrentava altos fretes, reflexo das supersafras de verão e safrinha. De acordo com o levantamento do grupo de pesquisa e extensão em logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (EsalqLog), o serviço de transporte já vinha sofrendo reajustes significativos, com previsão de novos, em função da demanda aquecida por parte do setor produtivo. A rota Toledo, no Oeste do Estado, até o Porto de Paranaguá, no Litoral, está 74% mais cara na comparação com o mesmo período do ano passado.
“A quebra de safra no ano passado fez com que a produção ficasse no Brasil para abastecer o mercado interno, principalmente as cadeias de proteínas, que não costuma pressionar frete, pois ocorre com cadência. Esse ano é o inverso. Safras recordes, tanto de soja como de milho, e o país precisa exportar desesperadamente. O mercado internacional pressiona, pois depende das janelas. Isso impulsiona o frete para cima”, explica Samuel da Silva Neto, da EsalqLog, lembrando que os fretes cobrados no segundo semestre de 2016 foram os mais baixos dos últimos seis anos.
Ainda segundo o pesquisador da entidade, o serviço de transporte irá ficar ainda mais “salgado”, pois os picos no preço do frete estão previstos para ocorrer nos meses de agosto e setembro, para atender a velha máxima do mercado da oferta e procura. “A colheita impacta no frete. As fazendas necessitam de um volume significativo de caminhões, a demanda será muito grande para o transporte rodoviário. Os maiores preços serão em agosto e setembro. Tende a recuar até o final do ano, mas não de forma intensa”, ressalta.
Além da grande procura pelo transporte rodoviário, o frete irá sofrer o acréscimo do reajuste nas bombas de combustível dos postos. O executivo da Fetranspar aponta para um novo aumento no transporte de carga ainda em agosto. De acordo com cálculos da entidade, a alta tributária da alíquota do PIS/Cofins sobre combustíveis representa aumento de 4% no custo da operação.
“O setor de transporte não pode assimilar mais esse gasto. Vamos repassar aos produtores, infelizmente. Cada empresário irá negociar com seus clientes, mas o aumento deve começar já nas próximas semanas”, diz Malucelli. Segundo a Fetranspar, o combustível representa 48% do custo operacional do transporte rodoviário.
“Esse é mais um entrave para os agricultores. No momento em que precisamos de uma melhora nos preços do milho, isso [o aumento dos combustíveis] é mais um fator que eleva os custos de produção e diminui a receita no campo”, lamenta Claudemir Pereira Buachaki, presidente do Sindicato Rural de Sapopema, Município no Norte Pioneiro do Estado.
O reajuste do frete ocorre num momento em que o setor produtivo enfrenta baixas cotações do cereal. Segundo levantamento do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Estado da Agricultura e Abastecimento (Seab), os produtores receberam R$ 19,49 pela saca de 60 quilos em junho, sendo que no mesmo mês do ano passado o preço estava em R$ 38,73.
“Esse ano afeta duplamente o produtor, pois a alta do frete ocorre no momento de baixas cotações do produto.
O impacto na receita líquida do agricultor é dobrado”, aponta Neto. No campo, diante da necessidade de retirar a produção, resta aos produtores lamentar mais um reajuste no transporte, que pressiona os custos de produção. “Esse aumento dos combustíveis irá prejudicar o bolso não só dos produtores de milho, mas de todos envolvidos com o agronegócio”, diz Braz Reberte Pedrini, presidente do Sindicato Rural de Antônia, no Oeste do Estado. “O preço da saca [de milho] mal paga os custos. A alta do diesel complica ainda mais a situação. Hoje, aqui na região, o pessoal está cobrando R$ 0,50 por saca para levar da lavoura até a cooperativa. Já estão falando que irá passar para R$ 0,75 com a alta dos combustíveis”, complementa Diogo Henrique Garcia dos Santos, presidente do Sindicato Rural de Lobato, na região Norte do Paraná.
Fonte: Boletim Informativo FAEP/Carlos Guimarães Filho