22 de outubro, 2018
Em cenário de incertezas sobre a cotação do dólar, moinhos ainda não sabem o quanto pagarão pelo produto e não preveem repasse de preços; Argentina é o principal fornecedor do Brasil.
A baixa qualidade e o menor volume de produção de trigo no Paraná, principal produtor do cereal no Brasil, devem fazer com que os moinhos ampliem as importações neste ano. A expectativa é que o País importe 7 milhões de toneladas em 2018.
De acordo com o conselheiro da Associação Brasileira das Indústrias de Trigo (Abitrigo), Marcelo Vosnika, desde o começo da safra 2018 já havia uma expectativa de uma importação entre 6,5 milhões de toneladas e 7 milhões de toneladas, devido à expectativa de área menor de cultivo no Paraná. Até agosto deste ano, o Brasil importou 4,5 milhões de toneladas, segundo a associação. A média anual tem sido de 5,5 milhões de toneladas por ano.
Ainda conforme a Abitrigo, o Brasil importou 6 milhões de toneladas em 2017. “Agora, a tendência é que a importação chegue a 7 milhões de toneladas, bem próximo do recorde”, estima o dirigente, referindo-se à perspectiva de perdas nas lavouras paranaenses devido ao clima. A maior parte desse volume deve ser importada da Argentina, que colhe uma safra recorde do cereal – estimada em 19,5 milhões de toneladas pelo
Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) – e é o principal fornecedor dos moinhos brasileiros. “A grande dúvida agora é qual será a cotação do dólar para a importação”, diz Vosnika. A tonelada do cereal argentino custa atualmente US$ 270 com o produto entregue no Brasil. “Na teoria, o preço do trigo teria que subir, mas tudo depende do dólar”, diz.
Safra brasileira
De acordo com o engenheiro agrônomo do Departamento de Economia Rural (Deral) da Secretaria de Agricultura do Paraná, Carlos Hugo Godinho, o clima tem prejudicado a produção no Paraná, principal produtor do cereal no País. “Quando o trigo perde a qualidade, é destinado a produtos de menor valor agregado, como biscoitos ou, em casos extremos, para rações”, explica o agrônomo. “Também acontece de exportarmos o trigo de menor qualidade para países menos exigentes e importarmos mais do produto de maior qualidade, como o utilizado para a produção de pães”, acrescenta Godinho. O Paraná plantou um milhão de hectares e deve colher 2,9 milhões de toneladas, estima o Deral. A projeção anterior era de 3,1 milhões de toneladas.
Os produtores registraram problemas na região Norte, onde os trabalhos a campo estão praticamente encerrados, e as perdas chegam a 40%. “Começamos bem, mas parte da lavoura teve problemas com a falta de chuva”. No noroeste do Estado, a safra começou com produtividade elevada, mas a chuva intensa registrada nas últimas duas semanas deve afetar a qualidade do trigo – que fica mais suscetível a pragas e doenças em razão da umidade – e a produtividade da lavoura. “Ainda é cedo para saber se essa região e a sudoeste, onde a colheita ainda está em andamento, terão perdas de fato”.
Aproximadamente 70% da área já foi colhida no Paraná, enquanto há um ano, quase 80% da colheita havia sido realizada neste período da safra. A média de área colhida para o período é de 68%. Segundo o informativo conjuntural da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater/RS), só 1% da área semeada no Estado, de 668,3 mil hectares – queda de 3% ante 2017 – foi colhida no noroeste do Estado com produtividades que variam entre 2,8 mil e 3 mil quilos por hectare e com boa qualidade.
A expectativa é de produção de 1,4 milhão de toneladas, alta de 16,71%. Em levantamento recente, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) projetou produção de 5,4 milhões de toneladas para a cultura no País, alta de 26,6% ante 2017. A área é de 2 milhões de hectares ante 1,9 milhão de hectares no ano passado.
Fonte: Diário do Comércio & Indústria Foto: Divulgação