TRANSPORDATA - Roubo de carga: uma epidemia que só cresce no país
07 de maio, 2018
A insegurança não é só um mal social, se tornou um problema econômico. No setor de transportes as empresas perdem por ano mais de R$1 bilhão, isso somente no prejuízo causado com o roubo de carga. Em 2016, esse valor chegou a R$ 1,3 bilhão em cerca de 20 mil ocorrências. No ano passado, de acordo com as estimativas da NTC&Logística, o número de sinistros cresceu até 7%. Mas o maior problema na “epidemia” do roubo de cargas é o desabastecimento em algumas cidades ou a criação de taxas extras para realizar o transporte.
“A insegurança no setor de transporte tem impacto direto no escoamento da produção, no abastecimento das famílias e no desenvolvimento de todos os setores da economia. Os números demonstram o impacto da violência no setor transportador, que somou prejuízo superior aos R$ 16 bilhões nos últimos dez anos”, disse o presidente da Confederação Nacional do Transportes (CNT), Clésio Andrade.
De acordo com a CNT, de 1998 e 2017, foram registrados mais de 285 mil casos de roubo de cargas em rodovias de todo o Brasil, totalizando um prejuízo de R$ 16,3 bilhões. Os Estados do Rio de Janeiro e de São Paulo concentram 82,3% das ocorrências.
As cargas mais visadas são as de alto valor agregado (eletroeletrônicos e farmacêuticos) e de fácil repasse, como cigarros, alimentos e vestuários. A C&A, que possuí três centros de distribuição no Brasil dois em São Paulo e um no Rio de Janeiro, criou um departamento de gerenciamento logístico para tentar coibir os roubos durante o transporte dos CDs para as lojas.
Luís Carlos Martão, gerente sênior de Operações Logísticas da C&A, disse que a medida foi necessária para diminuir os prejuízos constantes com os desvios das cargas durante a distribuição. “A nossa imagem junto aos clientes também ficava muito desgastada. Nós fazemos uma escala de viagens pensando nos motoristas. Monitoramos todo o embarque e a viagem, assim cumprimos o nosso PGR – Planejamento de Gerenciamento de Risco”, explicou Martão. “Nós também mapeamos as áreas de risco e criamos rotas alternativas. Deixando o nosso motorista mais seguro e nosso cliente satisfeito”.
Uma pesquisa da Fundação Dom Cabral (FDC) mostrou que no ano passado os gastos extras com segurança e investimentos em tecnologia de monitoramento dos veículos e das cargas tiveram impacto significativo no aumento do custo logístico para os embarcadores, os donos da carga. Segundo a pesquisa, o transporte rodoviário representou 75,9% da movimentação de mercadorias no Brasil e as despesas com logística passaram de 11,73% do faturamento das empresas em 2015 para 12,37% no ano passado, e isso gerou um gasto de R$ 15,5 bilhões. O levantamento foi feito com 130 empresas que detém cerca de 15% do PIB.
Marcel Favoretto, gerente de logística e armazenagem da Prosegur Cash, disse que a empresa criou há seis anos uma divisão de transporte de carga geral para atender a demanda crescente por segurança. A empresa, que tem no seu “DNA” a movimentação de valores, já investe R$ 10 milhões na compra de caminhões blindados e em sistemas de monitoramento.
“Transferimos a nossa expertise no transporte de valores para esse novo negócio. Com isso, o embarcador tem a solução completa de monitoramento, transporte, pessoal treinado, escolta e seguro. Já tivemos uma consulta para transportarmos óleo de cozinha, para o Rio de Janeiro de tão alto eram os gastos do cliente para levar a mercadoria para a cidade. Recusamos porque não temos as licenças para o transporte de alimentos”, disse Favoretto, acrescentando que atualmente, a Prosegur transporta eletroeletrônicos, produtos farmacêuticos, moda de luxo e cargas de alta atratividade.
A JadLog, empresa especializada na movimentação de carga expressa, dobrou as despesas com segurança e gestão de risco de 2016 para 2017. “A questão da segurança vem aumentando ao longo dos anos e tem se deteriorado em todos os estados e com isso, crescem os nossos custos. Os seguros aumentam, investimos em gerenciamento de risco, tudo isso impacta em nossas despesas. E para alguns destinos o frete é mais caro. Temos que repassar esses custos ao cliente”, disse Bruno Tortorello, CEO da companhia, acrescentando que a JadLog opera uma frota de 3,6 mil veículos e atende uma carteira de 30 mil clientes.
De acordo com levantamento da NTC&Logística, as empresas gastam de 12% a 14% de seu faturamento somente com medidas para mitigar os roubos de carga. Há 20 anos, esse impacto não passava de 4%. “O crescimento da economia das cidades, impulsionavam também os sinistros, por isso, as transportadoras gastam esse percentual para tentar diminuir os prejuízos causados com os roubos. Os estados de São Paulo e Rio de Janeiro, representam mais de 80% das ocorrências no Brasil. Para essas localidades há taxas especiais incorporadas ao frete”, afirmou Paulo Roberto de Souza, assessor de segurança da NTC&Logística.
Prosegur investe R$ 10 milhões em frota e sistema de monitoramento.
Com o aumento dos roubos de cargas no Rio de Janeiro, foi criado a taxa emergencial que equivale a 2% de Gris (Gerenciamento de Risco em Transporte) sob o frete e mais R$ 10 por tonelada de carga. Normalmente a Gris não chega a 1% em áreas consideradas seguras. Para Souza, a intervenção militar no Rio de Janeiro, pode melhorar os índices de roubos de cargas no país, pois, no estado e na sua capital, ocorreram 10.599 casos em 2016, um aumento de 7,3% no comparativo com 2015.
“Ainda não vimos um cenário de melhora. Entretanto, temos que dar tempo as medidas implementadas no Rio de Janeiro e se derem certo, com toda certeza vamos diminuir os índices de roubos de carga e melhorar a vida do morador da cidade que viu o seu custo de vida subir. Ficou muito caro levar as mercadorias para o município. Além disso, muitos motoristas se recusam a trabalhar na cidade. Tudo isso é colocado na conta”, ressaltou Souza.
Fonte: Transpodata - Ana Paula Machado Foto: Divulgação