SEST SENAT - O autoengano de quem bebe

SEST SENAT - O autoengano de quem bebe

10 de agosto, 2018

A psicóloga Carla Myrian Rodrigues percebe um traço em comum entre os muitos alcoolistas que passaram pelo seu consultório. “Falta autopercepção a esses pacientes”, acredita. Essa lacuna tem inúmeras consequências. Uma delas é a resistência a procurar ajuda. “Com frequência, quem vem primeiro é a companheira ou a filha. A família é a ponte para atravessar esse momento de negação”, constata.

A experiência no SEST SENAT de Santarém (PA) proporcionou à especialista uma visão acurada dos problemas enfrentados pelos motoristas. “Muitos deles querem apenas se manter acordados, ou enfrentar o tédio, e acabam tendo uma conduta de risco”, avalia. “Às vezes, as questões são emocionais mesmo – são frustrações, insatisfações, lutos amorosos etc. O indivíduo que não sabe lidar com as emoções fica vulnerável e recorre à bebida como válvula de escape”, aponta.   

É uma fuga muito perigosa. “A visão desses pacientes é que alcoolista é aquele que bebe todo dia. Eles argumentam que só bebem no fim de semana, mas não percebem que já se encontram em um quadro de vício”, alerta. O pior é que, uma vez acostumados ao autoengano, tendem a menosprezar as campanhas educativas. “Muitos alcoolistas só param quando já tem um prejuízo instalado ou depois de sofrer um acidente. Aí já pode ser tarde demais”, lamenta.

Segundo Carla Myrian, o beber “socialmente” deve ser visto com cautela. “(Esse hábito) pode, sim, se tornar um problema”, diz, lembrando que bebida e diversão estão culturalmente relacionadas de forma muito intensa. “Por exemplo, o brindar com champanhe em festas de Ano-Novo ou os batismos, nos quais se oferece o ‘mijo’ da criança, são rituais de concretização da felicidade”, analisa. O limite é tênue. “A bebida oferece uma sensação de prazer, pois eleva o nível de dopamina. O risco é querer reproduzir essa sensação em outros contextos, não festivos”.  

Ajudar as pessoas a se libertar do vício é um trabalho paciente, que envolve muito diálogo. “Tento mostrar que elas não precisam de álcool para serem mais corajosas ou mais extrovertidas; que depender do álcool é como se tornar uma marionete. É preciso estar sempre atento aos prejuízos psicossociais do vício. Tudo passa pela autovigilância”, enfatiza.

O SEST SENAT oferece gratuitamente atendimento psicológico aos trabalhadores do transporte. Basta procurar a unidade mais próxima. Além disso, a plataforma de Educação a Distância da instituição disponibiliza o curso “Alcoolismo”, também gratuito. Clique aqui para acessá-lo.
Leia mais sobre bebida e a falsa sensação de felicidade.

Fonte: SEST SENAT/Gustavo T. Falleiros Foto: Divulgação

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