País investe pouco e desperdiça dinheiro na infraestrutura. Como mudar esse quadro
15 de julho, 2022
Para 2022, no entanto, está prevista a aplicação de somente R$ 151,2 bilhões, segundo estimativas da consultoria Inter.B, o que corresponde a um aumento real (já descontada a inflação) de 1% em relação a 2021.
“Investimos pouco e não investimos bem”, diz o presidente da Inter.B, Cláudio Fritschak. Segundo ele, há problemas na alocação de recursos que se repetem há anos. Ele afirma que o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), adotado no segundo mandato do governo Lula, foi mal concebido e mal executado, gerando enorme desperdício de recursos. “Continuamos errando com projetos sem avaliação de custo-benefício, muitos de natureza paroquial e clientelista, com taxas sociais de retorno negativas ou questionáveis.”
O resultado é um baixo estoque de capital (valor total investido no setor), correspondente a 36% do PIB. É uma proporção muito inferior à de outras economias emergentes, como Índia (58% do PIB), China (56%) e África do Sul (87%), aponta a consultoria KPMG.
Entre países de grande extensão territorial – como Estados Unidos, China, Rússia, Canadá e Austrália –, o Brasil tem a mais baixa densidade de malha ferroviária e rodoviária. Segundo estudo do Fórum Econômico Mundial (WEF, na sigla em inglês), entre 137 países e territórios, a qualidade da infraestrutura de transporte no Brasil situa-se em 65º lugar.
A competitividade brasileira está abaixo da média dos Brics e de países da América Latina, como México, Chile e Equador. “A oferta inadequada de infraestrutura é identificada atualmente como um dos fatores mais desafiadores para a realização de negócios ao inibir sua competitividade global, considerando fatores como a questão tarifária e a ineficiência burocrática”, cita a KPMG
Setor privado é protagonista nos investimentos
O predomínio dos investimentos em infraestrutura é do setor privado. Eles devem atingir R$ 100,5 bilhões neste ano. R$ 7 de cada R$ 10 aplicados devem ir para o segmento de energia elétrica e telecomunicações, este impulsionado pela entrada em operação da tecnologia 5G para celulares.
Desde 2019, o Programa de Parcerias de Investimentos (PPI), uma iniciativa do governo federal para ampliar e fortalecer a interação entre o Estado e a iniciativa privada na área de infraestrutura, já assegurou R$ 550 bilhões em investimentos, e amealhou R$ 125 bilhões em outorgas pagas por concessionários ao setor público.
O investimento público, por outro lado, está perdendo relevância: são apenas 33,6% dos recursos aplicados, o segundo menor porcentual desde 2010, aponta a consultoria. O cenário coincide com a deterioração das contas públicas.
“Há um elevado comprometimento [de dinheiro público] com despesas relacionadas à dívida pública e a obrigações constitucionais”, diz a gerente executiva da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Fernanda Schwantes.
A KPMG destaca que o cenário de investimentos em infraestrutura é promissor e apresenta oportunidades com foco na eficiência operacional e na gestão inteligente de dados. “Com o apoio de tecnologia, há o potencial de agregar valor e alavancar receitas para toda a cadeia de ativos das organizações no segmento de infraestrutura e para todo o país”, diz a empresa.
Mas, segundo a Inter.B, o setor privado não é a “bala de prata” para resolver o problema de infraestrutura no Brasil. “O espaço de participação privada é, por vezes, limitado por força dos elevados retornos sociais dos investimentos, que justificariam um contínuo envolvimento direto ou indireto do setor público, a exemplo da mobilidade urbana ou saneamento em áreas rurais.”
Um estudo publicado pelo FMI em 2020 sinaliza que o aumento do investimento público em 1% do PIB poderia “fortalecer a confiança da recuperação e impulsionar o PIB em 2,7%, o investimento privado em 10% e o emprego em 1,2%. “Isto se traduziria em melhoras macroeconômicas”, diz a executiva da CNT.
Texto Vandré Kramer – Gazeta do Povo
Foto: Divulgação CNT via Gazeta do Povo