O GLOBO - Por dentro do caminhão elétrico que promete revolucionar o transporte de cargas

O GLOBO - Por dentro do caminhão elétrico que promete revolucionar o transporte de cargas

24 de novembro, 2017

O nome Semi não é lá muito criativo: vem de semi-trailer truck, que é como chamam os cavalos mecânicos nos Estados Unidos. E o conceito, tampouco é novidade — em 1918, já rodavam caminhões elétricos no Rio (quer ver um sobrevivente dessa época? Vá ao prédio da Light, na Avenida Marechal Floriano). Mas fato é que Elon Musk, o presidente da Tesla, mostrou na sexta-feira passada uma potencial revolução no transporte rodoviário de cargas.

— Liberem suas mentes rumo a uma dimensão alternativa — disse o inventivo empresário e engenheiro à multidão que compareceu à apresentação em Hawthorne, California. É no aeroporto daquela cidade que funciona o departamento de estilo da Tesla, bem como a companhia espacial SpaceX, também dirigida por Musk.

Com início da produção em série previsto para 2019, o Semi traz promessas que realmente parecem coisa de outro planeta. Segundo o fabricante, o caminhão elétrico tem a miraculosa autonomia de 800 quilômetros, com peso máximo e em velocidades normais de rodovia.

Para comparar, a Daimler lançou em julho um pequeno caminhão elétrico, o Fuso eCanter, com 350km de autonomia. Já a fabricante de motores a diesel Cummins mostrou um protótipo de cavalo mecânico elétrico, chamado Aeos, com modestos 160km de alcance.

Mas 800km ainda são pouco perto dos 1.600km de autonomia de um caminhão a diesel. Daí que os executivos da Tesla aproveitaram o evento para anunciar a criação de uma rede de carregadores de bateria alimentados por energia solar: após 30 minutos conectado a um “Megacharger”, o Semi poderia rodar mais 650km.

A Tesla, vale dizer, já mantém mil postos de recarga para carros de passeio, espalhados por América do Norte, Europa, Japão, China e Austrália, com energia a preço mais baixo que o normal. E não é só Musk que está nessa: hoje, nos EUA, há um total de 16 mil postos elétricos (contra 168 mil postos de gasolina e diesel).
A capacidade máxima de tração de 36 toneladas equivale à de caminhões semipesados como o brasileiro Volkswagen Constellation. Os dados técnicos ainda são revelados com discrição. A empresa não fala, por exemplo, na capacidade das baterias, nem quanto estas vão pesar. Mas adianta que o caminhão terá quatro motores iguais aos do sedã médio Tesla 3 — um para cada roda nos eixos atrás da cabine, com torque distribuído automaticamente entre eles. Isso ajuda a evitar, inclusive, o perigoso efeito canivete (deslizamento lateral da carreta que faz um “L” em relação ao cavalo).

Quatro Motores

Não se fala na potência máxima combinada, mas apenas em desempenho: 0 a 100km/h em 5s (só o cavalo) ou em 20s... com a carreta carregada! Outra vantagem de um caminhão elétrico é a maior capacidade de manter a velocidade em subidas, já que o torque máximo está a 1rpm.
 

— A condução do Semi é tão suave quanto a dos Tesla de passeio — jura Musk. — E mesmo com apenas dois motores em ação, ele ainda vence os caminhões a diesel.

O modelo traz a última versão do Autopilot, sistema semi-autônomo de direção. Mas o motorista ainda é um fator imprescindível, tanto que seu banco ocupa posição central na cabine. Teoricamente, isso melhora a visibilidade — só que também pode criar pontos cegos ao lado das duas portas, além de dificultar o pagamento de pedágios ou a entrega de notas pela janela. E, como é praxe nos Tesla, o quadro de instrumentos dá lugar a telas.

A novidade, desta vez, é que os retrovisores foram substituídos por câmeras (os protótipos no lançamento, porém, tinham espelhos convencionais). Nas primeiras projeções, só há vaga para o motorista, sem lugar para um chapa ou ajudante na boleia. Também não há espaço para cama.

Sem grade do radiador, nem retrovisores externos, o coeficiente de arrasto aerodinâmico do Semi é digno de um carro esportivo: 0,36. Isso ajuda a gastar menos energia. Em caminhões normais, o Cx não raro passa dos 0,70.

E nada de medo de trincar o para-brisa gigante: — Garanto que aguenta um ataque nuclear, ou devolvo seu dinheiro — jacta-se Musk.

A peça deve ser feita do mesmo vidro ultra-resistente usado no teto dos Tesla de passeio. Musk promete gastos 20% menores do que com um cavalo mecânico a diesel, em viagens curtas. Só em abastecimento, a previsão é de economizar US$ 200 mil a cada 1,6 milhão de quilômetros. Em teoria, o custo de operação de um Semi nos EUA seria de US$ 1,26/milha — fazendo as contas, dá R$ 2,55/quilômetro.

Para atrair compradores, a Tesla afirma que seu caminhão pode rodar 1,6 milhão de quilômetros sem quebras. Além disso, não há gasto com óleo, nem manutenção do motor.

Mesmo com o início da produção previsto para 2019, sem preço final fechado e com muitas perguntas ainda a serem respondidas, já há encomendas: só a rede de varejo Walmart já reservou 15 exemplares para avaliação. O sinal é de US$ 5 mil — se o caminhão cumprirá tudo o que promete, só o tempo de estrada vai dizer.

Fonte: O Globo

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