Infraestrutura: as demandas do setor produtivo para o novo governo do Paraná
29 de agosto, 2022
A Gazeta do Povo dá início a uma série de reportagens sobre temas que impactam a sociedade e que são vitais para a qualidade de vida das pessoas, para o avanço dos negócios e para o desenvolvimento de todo o Paraná. O propósito é, com a proximidade das eleições, estimular o debate sobre questões prioritárias ao Paraná e à próxima gestão do governo estadual.
Abordaremos os temas de Infraestrutura, Saúde, Educação, Segurança Pública, Eficiência Administrativa na Gestão Pública e Ambiente de Negócios Competitivo e Inovador, sob o ponto de vista de especialistas, estudiosos, pesquisadores e entidades representativas dos mais diversos setores. Aqui, o recorte da Infraestrutura.
O avanço na infraestrutura é uma das principais expectativas do setor produtivo em relação ao próximo governo. A viabilização do modal ferroviário, com a implantação da Nova Ferroeste, o prosseguimento das duplicações e melhorias nas rodovias, com tarifas justas de pedágio, estradas rurais adequadas, o avanço na modernização dos portos de Paranaguá e Antonina e melhorias nos aeroportos regionais são desafios para quem assumir o Palácio Iguaçu em janeiro de 2023. Além disso, a energia e a conectividade devem chegar às comunidades mais distantes para permitir o desenvolvimento.
Ter infraestrutura adequada é o caminho para reduzir custos e melhorar a eficiência na movimentação de mercadorias. O benefício é tanto para quem produz, que tem seus gastos otimizados, quanto para quem consome, que pode ter acesso a produtos de qualidade a preços mais acessíveis.
Novas cargas, novas necessidades
O perfil das cargas do Paraná mudou bastante nos últimos anos. O Estado, antes focado quase que totalmente na produção de grãos, tem aumentado a produção de alimentos industrializados, especialmente carnes e derivados e produtos lácteos.
São cargas que demandam uma logística especializada, precisam ser transportadas em contêineres refrigerados. Parte dessa produção sai do Paraná com destino ao mercado externo. Outra parte importante dessa mercadoria segue para abastecer outros estados brasileiros, entre eles os mais distantes, das regiões Norte e Nordeste.
Essa situação fez surgir uma demanda por um tipo de transporte ainda pouco comum no Paraná e no Brasil: a cabotagem. A navegação de um porto a outro, dentro do próprio país, é a solução mais indicada quando a distância a ser percorrida supera 1.500 quilômetros. E é aí que o setor produtivo esbarra em um dos entraves logísticos do estado: a pouca oferta de linhas que fazem a cabotagem saindo dos portos de Paranaguá e Antonina.
O pedido de incentivo à cabotagem é uma das novidades do Plano Estadual de Logística de Transporte (PELT 2035), iniciativa do setor produtivo, que acaba de ser revisado, com o propósito de ser encaminhado aos candidatos ao governo do Estado. O documento, que existe desde 2010 e é atualizado periodicamente, elenca as obras prioritárias até o ano de 2035 para dotar o estado da infraestrutura adequada em todos os modais.
A versão que acaba de ser revisada e será entregue aos candidatos ao governo traz o status de 97 obras elencadas como prioritárias, já na versão anterior, de 2016, em todos os modais. Do total, 24% das obras foram concluídas, 55% estão em andamento e 21% ainda não saíram do papel.
A atualização do plano contou com a participação de cerca de 440 pessoas, de diversas entidades, em sete reuniões regionais realizadas por todo o Paraná. Um dos maiores avanços do Estado em infraestrutura nos últimos anos, segundo a conclusão dos trabalhos, aconteceu no setor de aviação, com o programa Voe Paraná, que viabilizou voos nos aeroportos regionais. O setor produtivo reconhece também avanços no porto de Paranaguá.
"Navega Paraná" pode ser estímulo à cabotagem
“A cabotagem não estava nas versões anteriores, mas recebemos essa demanda do setor produtivo e inserimos”, destaca João Arthur Mohr, gerente de Assuntos Estratégicos do Sistema Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), entidade que lidera a estruturação do documento, formulado com a participação de todas as entidades do setor produtivo e órgão de classe.
Segundo Mohr, o governo do Estado pode estimular, estabelecendo áreas específicas nos portos do Paraná para terminais focados na cabotagem e com programas de incentivo para empresas que se instalarem aqui para viabilizar essa forma de transporte. Podem ser concedidos benefícios fiscais, como foi feito no setor da aviação com o Voe Paraná, que isentou o querosene, usado como combustível nas aeronaves. “Pode ser criado um Navega Paraná”, sugere Mohr.
A cooperativa Frimesa, uma das maiores na industrialização de carne suína e laticínios do Paraná, com sede em Medianeira, na região Oeste, está na lista das empresas que aguardam a viabilização da cabotagem. “Apenas 25% do que vendemos para o Norte e Nordeste do Brasil seguem por navegação. O restante vai por rodovia e isso encarece muito o nosso custo”, diz Elias Zydek, diretor executivo da cooperativa. “Aqui no Oeste do Paraná sofremos pela distância, tanto em relação ao porto quanto em relação aos grandes centros consumidores. Por isso, precisamos soluções logísticas mais eficientes e econômicas”, destaca.
Segundo Zydek, além da navegação, a ferrovia é fundamental. “Se aliarmos a ferrovia, para levar a carga até o porto, e a cabotagem para transportar de Paranaguá aos centros consumidores do Norte e Nordeste, nosso custo logístico é reduzido em cerca de 35%”, pontua. "O Paraná já tem bons projetos. O que precisa é implantá-los. O governo precisa ser mais ágil, caminhar na velocidade da iniciativa privada", observa Zydek.
A maior promessa é a ferrovia
A viabilização do transporte ferroviário é, talvez, o que o setor produtivo espera há mais tempo, em termos de infraestrutura. A tão prometida Nova Ferroeste, que vai ligar por trilhos o porto de Paranaguá ao Mato Grosso do Sul, numa extensão de 1.304 quilômetros, ainda está no papel.
Fonte: Gazeta do Povo Foto: Divulgação