GP - Falta de alimentos e alta de preços: 6 impactos da greve que parou o Brasil
24 de maio, 2018
Cerca de 350 mil caminhoneiros espalhados por 21 estados e o Distrito Federal mantiveram a mobilização contra a alta do preço do diesel no país nesta quarta-feira (23), terceiro dia de greve da categoria. Segundo cálculos da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, até o momento são 245 os pontos de interdição em estradas federais e estaduais.
A paralisação tem causado diversos transtornos, como a escassez de alimentos e outros produtos em supermercados, a falta de combustível em postos e aeroportos e a dificuldade de trafegar pelo país por causa de barreiras montadas com caminhões.
Pouco combustível para o transporte público
Com a paralisação, algumas capitais registraram problemas no transporte público. Rio de Janeiro e Recife precisaram reduzir o número de veículos em circulação devida à redução da reserva de combustível das empresas de ônibus.
A Secretaria Municipal de Transportes do Rio afirmou ter sido avisada pelos consórcios de ônibus que não receberam diesel nas garagens por conta da paralisação dos caminhoneiros. Com isso, a prefeitura recomendou à população que priorize os deslocamentos por metrô, trem e VLT.
Em Curitiba, as empresas de transporte informaram uma redução da frota circulante por causa da falta de combustíveis. Nos horários de pico, a quantidade de veículos terá uma diminuição de 30%, enquanto nos demais horários a redução será de 50% da frota. Pouco tempo depois, o prefeito Rafael Greca (PMN) anunciou que os ônibus vão circular normalmente nesta quinta-feira (24) até que seja feita uma nova avaliação nos estoques de combustível.
Já a prefeitura de São Paulo informou que cerca de 40% da frota de ônibus do transporte coletivo da capital paulista não deve circular nesta quinta. As frotas de capitais como Belo Horizonte também devem sofrer redução nas operações por conta da paralisação.
Reflexo nas bombas de combustível
Alguns postos de gasolina na capital do Paraná também registraram falta de combustível. Houve registro de falta de combustível também em postos em São Paulo, capital, em Santos, no litoral sul paulista, e em pelo menos três da cidade do Rio de Janeiro. Filas de carros se formaram nos postos para garantir o abastecimento antes que falta gasolina.
Na região metropolitana do Recife, já há posto vendendo o litro da gasolina a R$ 8,99, diante da demanda maior associada à baixa oferta do produto.
Faltam alimentos e outros produtos
Diversas cidades do país já enfrentam escassez de alimentos e outros produtos. Em Curitiba, diversos itens começaram a sumir das prateleiras e a ficar bem mais caros devido aos bloqueios realizados em rodovias do estado. O preço da batata, por exemplo, praticamente dobrou desde o início da semana e a previsão é que mais alimentos acompanhem essa alta caso os protestos continuem.
O tubérculo se transformou na primeira grande vítima desse terceiro dia de paralisações. No Ceasa, o saco do produto foi de R$ 70 para R$ 150 nesta quarta-feira – e o impacto já chegou ao consumidor. O gerente do Mercado Super G, em Curitiba, Paulo Generali, conta que o quilo da batata saltou de R$ 1,99 para R$ 4,79. Além disso, vários outros itens já estão começando a faltar.
E a expectativa é que a situação piore significativamente caso a greve continue. De acordo com o técnico em comercialização da Ceasa de Curitiba, Evandro Pilati, “os produtos mais afetados foram a batata, o tomate e algumas frutas, como o mamão, laranja e limão. Nesses casos, não vieram nada. Nos legumes, a cenoura teve uma escassez muito grande porque vem de fora e a carga não está chegando”.
A Associação Paulista de Supermercados (Apas) informou que as interrupções nas estradas causaram desabastecimento nos supermercados, sobretudo frutas, verduras e legumes, que são perecíveis e o abastecimento é diário. Carnes e produtos industrializados, que recebem proteínas no processo de fabricação, também estão com as entregas ameaçadas por conta do atraso no abastecimento, informa a entidade.
Em nota divulgada nesta quarta-feira, a Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), maior central de abastecimento de frutas, legumes, verduras, flores, pescados e diversos do país, informou que já sentiu reflexo na entrega de produtos oriundos de outros estados, como a batata, do Paraná, manga e mamão, vindos da Bahia e do Espírito Santo, melão procedente do Rio Grande do Norte e melancia de Goiás. Com isso, o preço da batata já subiu, informa a empresa.
A Cooperativa Central Aurora Alimentos anunciou paralisação total, por dois dias, das atividades de suas indústrias de processamento de aves e suínos em Santa Catarina, Paraná, Rio Grande do Sul e Mato Grosso do Sul. Os prejuízos podem chegar a R$ 50 milhões.
As cooperativas agropecuárias do Paraná, que faturam cerca de R$ 150 milhões por dia na produção e comercialização de fertilizantes, grãos, carnes, leites e derivados, estão entres os setores da economia paranaense mais prejudicados pelo bloqueio das estradas pelos caminhoneiros.
Em Salvador, a falta de estoque aumentou a procura por produtos que vêm pelo mar. Na feira de São Joaquim, centro de compras tradicional da cidade, batata e a cebola aumentaram de preço e boxes passaram o dia fechado. Restaurantes também se queixaram. As redes Divino Fogão, Domino’s, Habib’s, Koni, Subway, Spoleto e The Fifties relataram problemas de abastecimento, segundo a ANR (associação do setor).
A situação nos aeroportos
Em comunicado, a Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) demonstra preocupação com os impactos da greve dos caminhoneiros para a aviação comercial. “Haverá impactos para as operações aéreas nas próximas horas em decorrência da falta de abastecimento de combustível em alguns aeroportos brasileiros. Ainda não é possível contabilizar o número de voos ou rotas impactadas”, diz.
O alerta da Abear serve também para antecipar aos passageiros possíveis atrasos e cancelamentos. Para embarques a partir da noite de hoje, a entidade recomenda a consulta do status de voo junto às empresas antes mesmo do deslocamento ao aeroporto.
Alguns aeroportos do país registraram, nesta quarta, operação bem perto do limite do combustível. Congonhas, em São Paulo, contava com volume suficiente para esta quarta-feira. Até as 15h, desta quarta-feira (23), Aracaju operava sem combustível, mas uma carga chegou ao aeroporto e a situação está normalizada até a sexta.
Também em São Paulo, o aeroporto de Viracopos (Campinas), o segundo maior em volume de carga, tem estoque para dois dias, até sexta (25) após ser abastecido nesta quarta. Foz do Iguaçu e Londrina (PR), Campo Grande (MS), Goiânia (GO), Teresina (PI) e Ilhéus (BA) contavam com combustível para no máximo dois dias. Confins (MG), Maceió (AL) e Cuiabá (MT) devem enfrentar problemas a partir desta quinta. Curitiba e Porto Alegre têm combustível para até quinta-feira.
A Agência Nacional de Viação Civil (Anac) publicou em seu site orientação aos passageiros em virtude dos problemas ocorridos no abastecimento de combustível às empresas aéreas, por conta da greve dos caminhoneiros. A agência recomenda que os passageiros com voos marcados para os próximos dias consultem as companhias antes de ir até os aeroportos, até que se normalize o abastecimento.
A Infraero divulgou nota no fim da tarde desta quarta-feira informando que monitora o abastecimento de querosene de aviação por parte dos fornecedores que atuam nos terminais, e que está em contato “com órgãos públicos relacionados ao setor aéreo para garantir a chegada dos caminhões com combustível de aviação aos aeroportos administrados pela empresa”.
“Aos passageiros, a Infraero recomenda que procurem suas companhias para consultar a situação de seus voos. Aos operadores de aeronaves, a empresa orienta que façam a consulta sobre a disponibilidade de combustível na origem e no destino do voo programado”, recomenda.
Fábricas de veículos estão paradas
A paralisação já prejudicou a produção de 16 fábricas de carros e caminhões, conforme balanço da Anfavea, entidade que reúne as montadoras. Desde terça-feira (22), já vinham paralisadas as plantas da Ford, em Camaçari (BA) e Taubaté (SP), e da General Motors, em Gravataí (RS) e São Caetano (SP). Com a continuidade da greve, no entanto, o problema se agravou muito. Nesta quarta-feira (23), mais 11 fábricas pararam pelo menos um turno.
São elas: Betim (MG), da Fiat, Porto Real (RJ), da PSA Peugeot Citroen, São Bernardo (SP) da Ford, Ponta Grossa (PR), da DAF Caminhões, Piracicaba (SP), da Caterpillar, Curitiba (PR), da Volvo, São José dos Campos (SP), da General Motors, além de quatro plantas da Volkswagen – São Bernardo do Campo (SP), São Carlos (SP), São José dos Pinhais (SP) e Taubaté (SP).
A fábrica da Honda em Sumaré (SP) também deve interromper as atividades nesta quinta-feira (24). “Se a situação não se resolver nos próximos dois dias, teremos praticamente todo o setor paralisado”, diz Antônio Megale, presidente da Anfavea.
O executivo ainda não sabe precisar qual será o tamanho do prejuízo provocado pela greve, mas acredita que tem potencial para reduzir não só a produção mensal de veículos, mas também as vendas internas e as exportações. Há relatos de milhares de carros que não conseguem chegar aos portos.
O setor automotivo, que representa 4% do PIB e 20% da indústria, é extremamente dependente do transporte por caminhões não só para o recebimento de peças para as linhas de montagem, mas também para o desembaraço de carros e caminhões prontos para as concessionárias e para a exportação. A maior parte das montadoras de veículos está paralisada por falta de peças.
Fonte: Gazeta do Povo Foto: Franklin de Freitas/Estadão