CNT - Transformações exponenciais: futuro abundante para o transporte
07 de novembro, 2018
Peter Diamandis conta que, certa vez, o ex-presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton, perguntou a ele como poderia ser tão otimista sobre o futuro. “Você não lê as notícias?”, teria dito Clinton, ao que Diamandis respondeu: “eu vejo os números”. Engenheiro, médico, empresário e presidente-executivo da Singularity University, ele argumenta que, nos últimos 200 anos, indicadores importantes reduziram: pobreza extrema, mortalidade infantil, mortalidade materna, analfabetismo. Outros cresceram, como expectativa de vida, escolarização e acesso ao conhecimento. “E tudo isso por causa da tecnologia”, diz.
Sua visão positiva sobre o amanhã o levou a escrever o best-seller “Abundância: o futuro é melhor do que você imagina”. Com cada vez mais novidades tecnológicas, a perspectiva de Diamandis é de resultados cada vez melhores para a humanidade.
Mas a velocidade das mudanças exige uma nova forma de encarar o mundo. “Nós temos pensamento linear, então é difícil pensar exponencialmente. Para entender o que isso representa, se eu digo a você para dar 30 passos, linearmente, você poderá andar cerca de 30 metros. De forma exponencial, isso são 26 voltas na Terra”, exemplifica.
Para o setor de transporte não poderia ser diferente. Diamandis vislumbra um futuro abundante, mas cheio de mudanças que, na opinião dele, chegarão mais rapidamente do que a maioria das pessoas imagina.
Peter Diamandis abordou o tema, nessa segunda-feira (5), em uma conversa com empresários do setor transportador brasileiro que participam da HSM Expo 2018, evento sobre gestão e inovação que ocorre em São Paulo. A atividade foi promovida pela CNT (Confederação Nacional do Transporte), pelo SEST SENAT e pelo ITL (Instituto de Transporte e Logística).
Leia alguns dos comentários de Diamandis sobre as oportunidades e os desafios do setor no Brasil em um futuro inovador e abundante.
Matriz energética e automação
Há uma transição do transporte por combustão para o transporte elétrico. Há um compromisso da indústria automobilística no mundo de utilizar energias renováveis, bem como uma pressão por menos custos de operação e de manutenção. Outra coisa que está ocorrendo é o transporte autônomo. Quando a Google chegou e disse que o futuro do transporte seria a autonomia, acharam que era loucura. Mas isso está ocorrendo, estamos produzindo esses carros. Eu acho que, das cem maiores fabricantes de veículos do mundo, na próxima década, talvez dez sobrevivam. E não são apenas os veículos autônomos, mas também veículos voadores. Há diversas startups interessadas nisso. Além disso, tem outra forma de transporte que será bem disruptiva, que é você se deslocar sem nem mexer seu corpo. Quero dizer, vamos ver uma explosão em sistemas de realidade virtual, em que as pessoas poderão interagir sem estarem fisicamente presentes nos lugares.
Caminhões autônomos: como e quando?
Há empresas trabalhando em caminhões autônomos. A pergunta é: qual será a diferença? Serão caminhões totalmente autônomos ou eles terão uma certa assistência e, por exemplo, o motorista está só relaxando enquanto o sistema autônomo está fazendo a sua parte da estrada? Ainda não está certo. O que sabemos é que serão mais seguros e que essa mudança ocorrerá. Só não sabemos quando isso vai ocorrer. O que as pessoas não percebem é que, quando treinamos um veículo autônomo, treinamos toda a frota automaticamente. Os novos carros vão saber todas as informações, como a temperatura do solo, a umidade do ar. Eles terão mais dados do que qualquer piloto. Isso alimentará os sistemas inteligentes e mudará a forma como os outros carros passam pelos mesmos caminhos. É como se estivéssemos numa aula de geometria e, quando uma pessoa aprende, todos os outros aprendem também. Então não é uma questão de se, é uma questão de quando. Quando eu não sei. Obviamente a frota de caminhões é uma das maiores linhas de emprego, mas essas funções vão mudar. São essas questões que precisamos compreender.
Negócios e disrupção
Todos os negócios serão disruptivos. Então eu pergunto a todos os CEOs com quem converso: alguém vai fazer isso para você ou você vai fazer isso para outra pessoa? Dificilmente somos a pessoa certa para causar a disrupção em nossos próprios negócios. Nós estamos presos à forma como pensamos. Mas você tem seus ativos, sua marca, seus clientes, dinheiro e dados. São coisas que empresários no mundo inteiro matariam para ter acesso. Então, em vez de esperar, você deve dizer a pessoas de fora: venham aqui, me mostrem como fazer disrupção. Invista em dez diferentes startups. Pense em como convidar esses novos empreendedores para sugar a energia deles e invista. O importante é se questionar, e não defender sua posição na tentativa de manter os negócios como estão. Se você resiste, você morre. Questione-se sobre como baratear, como fazer melhor. Encontre empresas equivalentes em outros lugares, como na China, passe um tempo com os seus CEOs e aprenda com eles. Para CEOs e líderes eu lembro que, um dia antes de algo se tornar uma disrupção, era uma ideia totalmente maluca. Senão, não seria uma disrupção. Se vocês observarem as companhias mais valiosas do mundo, metade delas são de empreendedores que estavam pela primeira vez fazendo aquilo aos 20 anos, com ideias malucas. Então, se alguém chega com uma ideia que parece maluca, não diga saia daqui.
Cultura de inovação
A realidade é que a única constante hoje é o crescimento da velocidade da mudança. Nas empresas, a primeira coisa a se fazer é educar a sua base de funcionários para isso. Mas eles precisam ver a mesma coisa que você está vendo. A gente só muda quando tem emoções fortes, como medo ou amor. Então eles precisam sentir essa emoção, ter essa visão e se ver como parte disso, ou procurar outro trabalho.
Regulação e governo
Eu acho que é importante ter um sistema mais liberal, porque eu acho que o governo nem sempre tem conhecimento suficiente para regular o que está regulando. O governo deve ficar em uma posição, por exemplo, para reunir líderes de empesas para que debatam como fazer aquele negócio de uma forma ética. Mas simplesmente dizer não, não faça isso, é algo mais complicado.
Oportunidades no Brasil
O Brasil tem ativos maravilhosos como nação. São 210 milhões de cérebros. A inteligência da nação é o ativo mais importante. E a forma como os brasileiros amam, sentem, pensam, fazem é o mais importante. Educar a população é fundamental. A maioria das mudanças não sai de governos, mas de indivíduos que estão cansados de como as cosias são e dizem: eu vou mudar isso.
Fonte: Natália Pianegonda/CNT Foto: Divulgação