Caminhões de grande porte mantêm domínio do mercado brasileiro
28 de outubro, 2022
A venda de caminhões fechará 2022 com cerca de 130 mil unidades, um bom resultado como em 2021. E, como em outros anos, os modelos do segmento pesado, com peso bruto total combinado (PBTC) igual ou maior do que 40 toneladas, continuam dominando o mercado local, com 50% dos licenciamentos no acumulado até setembro. Assim, os caminhões maiores e mais caros, por volta de R$ 1 milhão, são também os mais vendidos.
E os semipesados (com PBTC abaixo de 40 toneladas) vêm em seguida, com 26,5% de participação, de acordo com os números divulgados pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea). “Esses caminhões costumam fazer trechos de longa distância, como os do interior do País para os portos. Quem transporta busca eficiência. E o valor do veículo se dilui pela maior capacidade da carga transportada”, afirma Gustavo Bonini, vice-presidente da Anfavea.
De acordo com executivo, o agronegócio gera maior demanda por caminhões de grande porte. Mas mineração e produtos industrializados que circulam entre os grandes centros de distribuição também demandam modelos pesados. “São itens importados ou produtos da linha branca [como geladeiras, lavadoras e fogões]. Quem investe em caminhões desse tipo pensa na eficiência de um único veículo capaz de realizar o trabalho de vários. Essa é a maneira de tornar o transporte mais barato, pela combinação de alta capacidade em peso e volume”.
Veículos de apoio
Felipe Alva, supervisor de marketing do produto da Volkswagen Caminhões e Ônibus, detalha o sucesso dos caminhões semipesados na montadora. “Além de fazerem uma segunda onda de distribuição dos portos para as indústrias, também são utilizados como veículos de apoio em usinas, mineradoras ou mesmo distribuição de materiais intermunicipais. Ainda dentro dessa categoria, temos os vocacionais, que fazem operações na construção civil [betoneira ou caçamba para movimentação de terra], coleta de resíduos e tanques, entre outros”.
Ricardo Barion, diretor comercial da Iveco, afirma que os semipesados da marca são bastante requisitados “para o transporte de cargas do campo para as cidades, principalmente para os ‘ceasas’ [centros de abastecimento], além das operações de apoio, como veículos-tanque [água, combustível] ou transporte de equipamentos”.
Alan Holzmann, diretor de estratégia de produto da Volvo, recorda que a tradição dos grandes caminhões no País vem desde os FNMs, que surgiram na metade do século passado. “Também houve um crescimento do agronegócio nos anos 1970, e o vetor desse desenvolvimento foi a aplicação rodoviária, já que as ferrovias não foram adiante”.
Holzmann confirma a necessidade de ganho de eficiência por tonelada transportada. “Essa matriz rodoviária demanda, cada vez mais, caminhões pesados. E, nas aplicações fora de estrada [como transporte de cana-de-açúcar, mineração e construção civil], também, há essa busca por causa eficiência.” Pertence à Volvo o caminhão pesado mais vendido no País, o FH 540, com 14 mil unidades, de janeiro a setembro.
Clientes em diferentes áreas
O executivo da Volvo afirma que as transportadoras estão muito profissionalizadas e têm grande foco na produtividade, seja para o transporte de grãos, seja para logística geral. “A aquisição desses caminhões é muito baseada no TCO”, diz, referindo-se à sigla, em inglês, para custo total de propriedade do veículo.
Para Bonini, da Anfavea, há mineradoras, fazendeiros e também caminhoneiros autônomos comprando veículos novos de grande porte. “Muitos desses motoristas se especializam em algumas rotas e precisam de um caminhão com boa capacidade de carga”.
Vale dizer que a demanda do agronegócio vai além de soja, milho ou cana. Inclui também transporte de madeira e de proteína animal, sobretudo pelos frigoríficos, que, da mesma forma, envolve longos trajetos do produtor aos grandes centros ou portos com destino ao exterior.
Outros mercados da região
De acordo com Ricardo Barion, o mercado latino, para a Iveco, é semelhante ao do Brasil. Para Alan Holzmann, da Volvo, a demanda predominante na Argentina é por modelos menos potentes do que no Brasil. “Já o mercado chileno requer produtos mais sofisticados”.
Para Felipe Alva, da Volkswagen, os números da América Latina apontam leve tendência de crescimento para os modelos de grande porte, mas reforça que a concentração no mercado de pesados é um fenômeno muito forte no Brasil por causa da extensão territorial.
Comércio eletrônico e veículos menores De acordo com os números da Anfavea, os caminhões semileves (para 3,5 a 6 toneladas), leves (de 6 a 10 toneladas) e médios (de 10 a 15 toneladas) também apresentam desempenho de mercado semelhante ao anotado de janeiro a setembro de 2021. “O comércio eletrônico puxa as vendas em todos os segmentos. Hoje, é comum a entrega no mesmo dia de um pedido feito pela internet, e isso só é possível com modelos capazes de circular sem restrições”, conclui Gustavo Bonini.
Fonte: Estadão Foto: Divulgação