Brasil perde quase 40% da água tratada com vazamentos e fraudes, aponta estudo
23 de fevereiro, 2017
Brasil perde quase 40% da água tratada com vazamentos e fraudes, aponta estudo
Quase 40% da água tratada no país é perdida por causa de vazamentos nas tubulações, ligações clandestinas e erros de medição. É o que aponta um estudo do Instituto Trata Brasil obtido pelo G1. De acordo com os dados do Sistema Nacional de Informações Sobre Saneamento (SNIS) de 2015, que são os mais recentes e foram divulgados em janeiro deste ano, o índice nacional de perda de água na distribuição é de 36,7%. Em 2011, era de 38,8% – o que significa uma evolução muito lenta para diminuir o desperdício no país, de apenas 2,1 pontos percentuais em quatro anos.
O estudo do Trata Brasil destaca ainda o desempenho das 100 maiores cidades do país em comparação com a média nacional. Segundo Édison Carlos, presidente do instituto, estas cidades deviam puxar o crescimento do país, já que têm estruturas públicas e privadas mais bem desenvolvidas e porque abrangem cerca de 40% da população do Brasil. As diferenças entre os índices nacionais e os dessas cidades, porém, são poucas. O índice de perda de água é de 37,8%, contra os 36,7% nacionais, e a melhora entre 2011 e 2015 foi semelhante – 2 pontos percentuais.
“São grandes aglomerados com capacidade de investimento, de fazer projetos, com corpo de engenharia, estão esperávamos que estas 100 cidades fossem a locomotiva do país. Os números, porém, mostram que não, que nem as capitais estão conseguindo fazer o papel de melhorar mais rapidamente os indicadores de água e esgoto”, afirma Édison Carlos. “Se essas cidades não estão conseguindo, imagina os municípios menores, que têm piores estruturas”.
O único índice que avançou muito mais nas grandes cidades que no restante do país foi o de coleta de esgoto. A cobertura nacional é de apenas 50,3% da população – o que significa que mais de 100 milhões de pessoas utilizam medidas alternativas para lidar com os dejetos, seja através de uma fossa, seja jogando o esgoto diretamente em rios. Já nas 100 maiores cidades, a cobertura é de 71,1%.
Segundo Édison, isso acontece por conta da grande concentração da população nas grandes cidades, já que uma única rede de esgoto construída atende um número elevado de pessoas e, consequentemente, causa aumentos significativos nos indicadores. Isso é diferente do que acontece no resto do país, pois uma rede vai atender apenas uma pequena quantidade de pessoas em uma cidade pequena.
O presidente do Trata Brasil cita o caso de São José do Rio Preto, no interior de São Paulo, que passou de 5% em 2008 para 100% em 2015 no tratamento de esgoto principalmente por causa da construção e do funcionamento de uma estação. “Os esforços feitos nessas grandes cidades elevam os indicadores de uma forma mais rápida. É um ponto positivo, mas ainda é pequeno para o problema do saneamento do país”, afirma.
Apesar disso, segundo o estudo, o pior indicador de cobertura entre as maiores cidades é o de tratamento de esgoto. Apenas 21% dessas cidades tratam mais de 80% de seu esgoto. Outros 21% tratam menos de 20%. Além de São José do Rio Preto, apenas 5 das 100 cidades reportaram tratar todo o esgoto – Campina Grande (PB), Jundiaí (SP), Limeira (SP), Niterói (RJ) e Piracicaba (SP). Já quatro não tratam nada: São João do Meriti (RJ), Santarém (PA), Governador Valadares (MG) e Porto velho (RO).
Investimentos e perda no faturamento
Édison Carlos afirma que, além do desperdício que o índice de perdas nas distribuições de água tratada representa, é importante destacar o que as cidades deixam de arrecadar com essas perdas.
O índice de perdas de faturamento total, que estima o quanto da água potável produzida não foi faturada, é de 41,3% para as grandes cidades. Em cidades como Santo André (SP) e Vitória da Conquista (BA), os percentuais ficam abaixo de 10%, mas os números podem se elevar de forma alarmante, como no caso de Manaus, em que 73,1% da água não é cobrada.
“É um absurdo, é impossível fazer investimentos no setor de saneamento com perda financeira na ordem de 70%. E são volumes gigantescos de água que se perdem”, afirma Édison Carlos. “O que se espera não é fácil, pois trocar redes com a capital inteira funcionando não é simples. Tem que paralisar rua. São quilômetros e quilômetros de tubulações para serem trocadas, mas tem que fazer, porque, se não fizer, não vai ter recurso para investir no sistema.”
O problema da perda de faturamento se junta ao da baixa arrecadação de saneamento que, de fato, volta como melhorias e investimentos. Das 100 grandes cidades analisadas no estudo, 70 investiram menos de 30% da arrecadação. “O dinheiro foi para a empresa, para a prefeitura, para pagar os funcionários, não para o sistema de saneamento. É muito sintomático, pois o que arrecada tem que ser também reinvestido no próprio sistema. Não está havendo uma preocupação com a ampliação das redes de saneamento.”
Ranking do saneamento
O estudo também faz um ranking das 100 maiores cidades do país baseado nos diversos indicadores de saneamento básico, como acesso ao abastecimento de água e à coleta de esgoto, o percentual do esgoto tratado e investimentos e arrecadação no setor. Veja a lista abaixo.
1º - Franca (SP)
2º - Uberlândia (MG)
3º - São José dos Campos (SP)
4º - Santos (SP)
5º - Maringá (PR)
6º - Limeira (SP)
7º - Ponta Grossa (PR)
8º - Cascavel (PR)
9º - Londrina (PR)
10º - Vitória da Conquista (BA)
11º - Curitiba (PR)
Fonte: Clara Velasco, G1, São Paulo